segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Corredor Azul

Minha vez. Abro a porta com cuidado. Carrego o coração apertado pelo caminho silencioso. No final do corredor azul, o encontro: ele deitado, olhos fechados, tubos e máquinas. O relógio na parede chama atenção: parado, imóvel, como o vô, eu e o tempo neste instante.

Penso em algo bonito para dizer. Serão as últimas palavras? O último diálogo? Ele vai ouvir? Parece dormir tão profundamente. Isso é um diálogo? Chego mais perto, toco de leve a mão imóvel. Tenho a impressão de ser tão frágil que desmancharia se eu apertasse.

Coragem! Abro a boca para dizer eu te amo, percebo, então, o nó que amarra a voz e a emoção na minha garganta. Espremo algumas palavras. Mal ouço o que acabo de dizer. Com um suave carinho e um olhar, despeço-me. O relógio continua a congelar o tempo.

De volta ao solitário corredor azul, mais alguns passos, abro a porta. Encaro a sala de espera sem cadeiras, sem conforto, ansiedade apenas. Desse lado, há os que contam os minutos, o horário de visita dura pouco, enquanto que, do outro, permanecem os que pararam no tempo.