terça-feira, 15 de setembro de 2009

Folhas de Outono




O ar estava úmido, o chão, molhado, o céu, branco, o parque, quase vazio. Ao que parece, a maioria das pessoas prefere ficar em casa em manhãs como essa. Decidi, então, juntar-me à maioria.

Meus planos foram adiados diante daquela cena: um casal de velhinhos caminhando. Eles andavam tão perto um do outro e no mesmo ritmo, que pareciam dançar uma música lenta, em um movimento semelhante ao das folhas que caíam ao seu redor.

Ele, um senhor, com um tom de mogno envelhecido, vestindo um chapéu, também antigo, com sua voz rouca, cantava: I see trees of green, red roses too, I see them bloom for me and you... tão convencido como alguém que, de fato, estivesse vendo tudo aquilo.

Ela, uma senhora charmosa, usando óculos escuros em um dia sombrio, ouvia a música e sorria como alguém que também estivesse vendo tudo aquilo. Provavelmente, repetia consigo: what a wonderful world!

Enquanto ele pintava aquele mundo maravilhoso com a voz, ela o tricotava com a mente. Que obra de arte! Não havia pressa. Eles não estavam fugindo, nem preocupados em chegar cedo. Apenas caminhavam. E faziam isso juntos.

O nome dele era Alfredo. Costumava adormecer tão facilmente e roncar tão alto que ela tinha que cutucá-lo várias vezes durante a noite. Também, vivia esquecendo favores, como regar as plantas, e datas importantes. Isso era irritante, mas ela apreciava ser sua memória quase todo o tempo.

O nome dela era Elen. Costumava reclamar muito, porque fazia tantos planos que era comum parte deles ser frustrada, e, como eram muitos, isso acontecia com freqüência. Também vivia pedindo para que Alfredo lesse para ela, e podia ser muito teimosa se ele não quisesse. Isso era irritante, mas ele apreciava ser seus olhos quase todo o tempo, ao menos, era o que estava escrito nos seus quando o fazia.

Alfredo e Elen tiveram um longo casamento, algumas brigas, muitas caminhadas e a wonderfull world, até o dia em que, como aquelas folhas de outono, eles, suavemente, tocaram o chão.