sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Precisão - Postagem temática

Sabe aquelas imagens de ilusão de ótica? Não é incrível como se pode ficar durante um longo período enxergando uma certa imagem e, de repente, ver outra que estava ali o tempo todo sem ser percebida?

Às vezes isso acontece com pessoas.

Na minha infância, saía por aí com uma caderneta à procura de pistas. Elas estavam por onde quer que eu andasse. Elas estavam por toda parte. Elas estavam exatamente onde eu as escondia.

Há duas semanas comecei a fazer aulas de desenho a partir da observação – um disfarce para continuar brincando de detetive, na verdade. Razão pela qual não pude deixar de trazer um caderno extra.

17:10 – Estou desenhando a torre do relógio da cidade. O problema são os ponteiros. Não param. Que horas são no meu desenho?

17:15 – Incorporei dois jogadores de xadrez nos meus rabiscos. Há mais de duas horas que estão jogando. Então, decidi que fazem parte do cenário. Um senhor e uma senhora enrugados que fazem uso de dois exércitos de peças para lutar com a inteligência um do outro, e combater o tédio. Definitivamente não há espaço para o tédio, apenas concentração. Desenharia uma redoma de vidro em volta daquela mesinha se não estivesse participando de um curso de desenho de observação, mas... quase enxergo uma camada bem fininha e isolante ali.

17:40– Humanos são tão difíceis de desenhar. Mais do que relógios.

18:00 – Que sorte! Exclamou o rapaz – um dos que formou a pequena platéia para assistir o final da partida e quase bloqueou minha visão. A senhora ergueu a peça chave, trêmula, e disse, em vez de cheque – precisão, meu jovem. Fim do jogo.O sino bateu e a senhora seguiu balançando, ressoando, como se as ondas sonoras a sacudissem de leve. Precisão. Ela sorria. E ele também. Precisamente satisfeitos, como eu. Ajustei os ponteiros. Seis horas na torre e no papel... Duas pessoas. Dois ponteiros. A hora exata. Sorte? Pergunte ao relojoeiro. Ou ao desenhista. Ou à senhora. Precisão, meu jovem.