terça-feira, 30 de junho de 2015

Bolo de milho




De onde venho, o verão é seco e cinza, o inverno é molhado e verde, as casas são coloridas e espaçadas: uma aqui, campo, bois, outra ali, campo, milho, macaxeira, outra lá. Mas as pessoas vivem perto, bem perto umas das outras, sabe?

Pronto, agora vivemos na cidade grande. Vivemos em casas empilhadas. Uma torre de pessoas, como blocos daqueles de montar. E, até ontem, ainda não conhecíamos quase ninguém. Ainda.

É que o dia amanheceu junino. E o prédio também. De manhã, abrimos a porta, e o corredor estava cheio de bandeirinhas, mas vazio de gente. Foi o que disse para minha mãe. Ela só suspirou: é… E teve uma ideia brilhante, dourada: bolo de milho.

Escreveu um bilhete e colocou no mural da portaria: bolo de milho e café  no 203, às 18 horas, sejam bem-vindos!

Já sentia o gosto de festa na memória, dentro da cabeça; mais tarde, nas mãos, ajudando a preparar o bolo; depois nos olhos, espiando pela porta do forno; então pelo nariz, cheiro do milho assando e do café borbulhando; pelos ouvidos, ao som da chegada dos convidados de camisas quadriculadas e da folia dos matutinhos.

Maria Antônia e Carlinhos trouxeram tapioca de coco com leite condensado; Socorro, paçoquinha; Gabriel, pipoca com manteiga; Nina, canjica;  Miguel, suco de cajá e de açaí; Pedro e Aninha, bolo de macaxeira caramelada; Bia, queijo coalho; Marilda, milho cozinhado, Dona Cândida, munguzá; João e Carol, sorda… e por aí vai: uma dança de quadrilha, de gente e de pratos, rodando pra lá e pra cá.

Precisava ver a cara de susto do meu pai diante de tanta gente por metro quadrado. Foi direto para o quarto. Será que ficou brabo?

Ficou, não! Saiu de lá com um violão empoeirado na mão. Tocou, cantou, bonito que só! Nem tão afinado, mas com uma boniteza, assim, muito da particular.

Na sala, o bolo de milho, de gente, de café e de música. O bolo foi partindo, diminuindo, boa noite, aqui, boa noite, lá, muito obrigado, aqui, até mais, lá, cheiro, aqui, cheiro, lá. Até que sobrou só nós três e o sono. Dormimos cheios de milho, de cheiros e de mimos.

No domingo, acordei com o cheiro de chuva. E de canjica, talvez munguzá… de um outro bloco da pilha? Será?