domingo, 23 de abril de 2017

Frestas




Em um sobressalto, Sun hee jogou o livro para baixo da cama, levantou-se e aproximou-se da janela. Com os dedos, de leve, abriu uma fresta na persiana. Nada lá fora. Um susto tão grande por um pulo de gato, uma queda, um barulho. Da fresta, um rio de luz percorreu o quarto. Ela respirou fundo. Ar de quem se esvazia de angústia. Ar de alívio.

Voltou para perto da cama. Ajoelhou-se. Esticou o braço. Dos confins, pescou a Palavra e continuou a ler: Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo! Conforme a sua grande misericórdia, ele nos regenerou para uma esperança viva, por meio da ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos - 1 Pedro 1:3.

Saiu de casa para sua rotina de domingo. Era Páscoa, mas tudo funcionava como em um dia qualquer, como se nada fosse ou pudesse ser diferente. Mas era Páscoa.

Quando atravessou a rua em frente ao hospital, passou por Taeyang. Olharam nos olhos um do outro e sorriram – para eles tudo era diferente – um sorriso de Feliz Páscoa, sem qualquer palavra, apenas a Palavra queimando por dentro. E pelas frestas dos olhos alongados, um rio de luz iluminou ainda mais aquele dia de esperança viva, de travessia, de Páscoa. Em margens opostas, seguem a navegar e, feito faróis, a iluminar dias sombrios.

Que aqueles que perseguem cristãos passem a seguir a Cristo. Amém.


*Nossos irmãos norte-coreanos sofrem severa perseguição. Para mais informações sobre a Igreja Perseguida: https://www.portasabertas.org.br/

quarta-feira, 12 de abril de 2017

Jardins da Palavra

Jardim do Éden. No paraíso, florescia a intimidade em plenitude, entre Criador e criação, entre todas as criaturas. Palavras cheias de vida, de poesia. Dentre a diversidade de frutos do bem, o do conhecimento do bem e do mal foi escolhido, na sedução do orgulho e do poder. Alimento que corrompeu o corpo, a alma e os relacionamentos: morte, lamento e dor.

Jardim do Getsêmani. Na escuridão, em humildade e rendição, Jesus se dobra e ora. Maturidade de oliva prestes a ser moída e transformada em óleo para ungir o Universo e redimir a Criação. Gotas de sangue expiram a morte, o lamento e a dor.

Jardim do Gólgota. Cristo, plantado no alto do monte, por sobre uma montanha de ira e de punição, renasce a comunhão. Ele é semente que morre e germina vida eterna para quem nEle crê -  dEle e para Ele todas as flores e todos os frutos, cultura do Santo Espírito.


terça-feira, 11 de abril de 2017

Olhos de coruja


Inácio e sua amiga coruja brincavam no quintal. Ele corria. Ela voava. Até que a coruja quebrou a perna.

Inácio cuidou da coruja. Enfaixou sua perna: voltas e voltas de tecido e de afeto. Enquanto cuidava dela, percebeu uma mancha em seu olho, na íris. Quando a perna da coruja ficou curada, a mancha de sua íris desapareceu.

O menino cresceu e estudou Medicina. A cada dia, olhar nos olhos das pessoas ficava mais importante. Olhar nos olhos dos pacientes ajudava-o a identificar suas doenças. Olhar nos olhos da amiga coruja tornara o menino-médico mais sábio.


Texto inspirado em uma história um tanto lendária sobre Ignatz von Péczely.