quinta-feira, 22 de agosto de 2013

A chuva que não cai

   
A cadeira de balanço embala o avô cansado, amolecido pelo calor da tarde de verão. Ao lado, o menino embala o peão que gira solto, sem sinal de tontura, privilégio restrito a um objeto, quando se trata de um dia abafado como esse. Aproveitando as mãos livres do brinquedo, por um instante, em um gesto lento, como o passar daquela tarde, limpa o suor do rosto. Em um profundo suspiro, exclama:

- Ah, como eu queria tomar um banho de chuva...

- É... nos últimos dias ela tá só subindo.

- Como assim? Que ideia é essa de chover pra cima?

- De onde você acha que vem a chuva? Toda essa água precisa subir até o céu, pra cair depois.

- Gotas refrescantes... Ah... que vontade...

- Vem, vamos regar o jardim.

Viram-se, então, gotas borbotando das mais variadas direções. Gotas de olhos que choram de tanto rir, vertendo meninice e vovozice, em uma tarde de verão. 

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