No morro das antenas, despertei cedo naquela manhã, para pegar um ônibus
rumo ao aeroporto, e de lá voar para casa. Na parada, lembrei que havia gasto
meus trocados em uma pizza entre amigos, na noite anterior. Contei as moedas da
carteira. Faltavam alguns centavos. Além disso, apenas uma nota de cinqüenta reais.
Olhei em volta, nada aberto naquela hora de sábado.
Chegou o ônibus. Entrei. Perguntei se o cobrador tinha troco para cinqüenta.
Respondeu que não. Só tenho umas moedas... acho que não chega... eu...
ahm...tentei explicar, encontrar um jeito de... É, faltam quarenta centavos,
disse o cobrador, entre dentes cerrados.
Sem saber o que dizer, nem o que fazer, senti o rosto latejar de
vergonha – quanto irresponsabilidade não ter pensado nisso antes.
Uma senhora, do banco preferencial, em um gesto discreto, estendeu o
braço magro, com quarenta centavos. Perplexa, o coração apertado, tal palavra
quase não passou pelo nó da minha garganta: obrigada. Ela sussurrou como uma
brisa: Deus te abençoe. A ti também, ecoei e, em vez de sentar ao seu lado,
perguntar seu nome e conversar, me acomodei em um banco do outro lado do
corredor e comecei a remexer na mochila, procurando por alguma coisa que
pudesse retribuir aqueles centavos. Uma caneta, talvez. Quando olhei para o
lado, aquela senhora esguia, de cabelos brancos, saltou do banco e desceu do
ônibus com agilidade de atleta. Acho que nunca vou saber seu nome. Para mim,
ela se chama Graça.
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