quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Jardins

    
    Nas dimensões da infância, a escola, as praças, as árvores, os professores, é tudo imenso. A vida parece não ter fim e, ao mesmo tempo, cabe inteira num instante: toda alegria explode num riso sincero, a birra num beiço que também não o deixa de ser. Os instantes passam e desfazem o momento, das migalhas forma-se a memória, do que cristaliza, doces recordações.
    
    Os corredores da escola já não são tão grandes, preenchidos por lembranças, momentos vividos, o que faz com que os mesmos olhos vejam de um outro modo. Os professores que por ali passam entram nas salas com a tarefa de ensinar e para isso não se desfazem do que verdadeiramente são. O conteúdo vem acompanhado por um jeito único de falar, rir, gesticular, ficar furioso. Sem demora, surgem as imitações, os risos. Crescemos, formamos opiniões, sentimo-nos grandes o suficiente para chacotear, porém não deixamos de ser crianças que gostam de imitar.

    Ao sair da escola, irrompendo em alegria, levaremos conosco não só um papel com a aprovação, mas também pedaços de profissionais que se doam – professores – semeando sonhos. E a nossa mente é, sem dúvida, terreno fértil, criando monstros, bobeiras, planos, além de minhocas e brincadeiras na cabeça.

    Quando entrei no jardim, encontrei uma professora acolhedora e amizades das quais usufruo até hoje. Lembro, também, de cuidarmos de uma lagarta e a vermos transformar-se em borboleta – incrível! – o que faz de mim apreciadora de jardins, de natureza em transformação.

    Ana Cristina apresentou-nos às letras com um Batalhão de Mário Quintana, deixando-me o gosto não só pela escrita, como pela poesia da vida em si. Mais tarde, viria a Roselaine colando estrelinhas por dedicação, a Sofia e a Aletéia com História e Música, e tantos outros com suas preciosas sementes. No Ensino Médio, o Elemar, professor de matemática, proclama “quem escolhe deixa!”, talvez a parte mais difícil em decidir – deixar para trás – mas imprescindível para seguir em frente; o que vimos nas lágrimas da Noeli ao ser escolhida paraninfa, em sua despedida, dissolvida no amor pelo que faz.



    E, por fim, a Lu com seus atenciosos rodapés, os quais guardo com carinho. Quem sabe um dia, de tantas sementes, letras, poesia, brote um livro em minhas gavetas, aquelas que organizam o pensamento em minha cabeça? Talvez. 



* Outro texto do Ensino Médio.

2 comentários:

  1. Puxa, como eu gostaria de saber escrever um rodapé que traduzisse um milésimo da emoção que estou sentindo agora... graças por esse texto, graças por existires...

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    1. Que lindo, Lu! Muito obrigada por tudo! Um abraço cheio de gratidão e saudade \o/

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