- Atravessei a
Andradas quase correndo e quando vi aquele suco de uva, ali do Mercado, tive a
ideia de comprar um copo e sair tomando. Ainda não tava atrasada.
- Ainda.
- E naquele tumulto,
passou um rapaz correndo e quase me arrastou junto. E o suco de uva, então,
fiquei roxa de suco e de raiva também. Há uma semana que tinha escolhido aquela
roupa, para aquele dia.
- Era a minha estréia
como solista.
- Perdi o ônibus,
depois, quando cheguei em casa
- Já tava lá esperando.
- A gente tinha
combinado de ir junto.
- Só que naquela hora eu
já tinha que estar lá.
- E eu tinha que
trocar de roupa, não podia ir daquele jeito para o concerto. Disse que se já
quisesse ir, sem mim, daria um jeito de ir depois.
- Aí inventei de dizer
que ela sempre se atrasava e que isso era importante pra mim, mas que ela nem
ligava, algo assim, tava muito nervoso, saí batendo a porta ainda.
- Depois disso, nem
conseguia pensar no que vestir, quando vi a pasta de partituras na mesa de
centro – ele esqueceu!
- E nem tinha
percebido.
- Ah, mas não tinha
celular naquela época. Saí correndo. Peguei um táxi.
- Cheguei lá.
Encontrei meu lugar e fui ajeitar minhas coisas.
- Entrei no teatro,
pela lateral, para, discretamente
- Quando vi sua mãe lá,
pintada de suco, estendendo a mão com as partituras, sorri e
- Me puxou para o
palco.
- Ela disse que eu só
precisava das partituras.
- Para o solo.
- Mas não queria mais
saber de solo.